“Novo briefing? Nossa, claro, amanhã às 10h estarei aí.”
“Sim, a gente presta todos esses serviços!”
“É pra ontem? Tudo bem, a gente dá um jeito.”
Essas, entre outras situações cotidianas, são muito comuns em todos os modelos de negócio de projetos voltados para a Comunicação, afinal, o mercado exige competitividade, velocidade, adaptabilidade, e mais tantas outras atribuições para manter uma empresa crescendo, sejam em clientes já existentes ou nos novos que prospectamos.
Voltando ao cenário apresentado, dentro de casa com nosso time:
- “O briefing tá claro, vamos arrebentar pra ganhar o cliente e envolver a galera mais sênior que tivermos.”
- “Vamos prometer a deadline que nunca conseguiríamos cumprir da forma como operamos, mas isso a gente vê depois.”
- “Não vamos nos preocupar com a saúde do job. A satisfação do cliente vem em primeiro lugar.”
São expectativas que começam desalinhadas desde a entrada do projeto na estrutura, passando por mais alinhamentos inadequados.
E no fim, o que temos? Aquele fracasso “inesperado”.
Um dos temas de maior aprendizado durante minha jornada profissional com a Comunicação, é que a transparência é o melhor antídoto para qualquer problema, de qualquer ordem, seja da relação com o cliente, a equipe e os fornecedores, seja de operações, de recursos humanos ou de finanças. Infelizmente, carregamos, em alguns casos, uma herança da velha Publicidade, que problemas são jogados para baixo do tapete, e que o que importa é a aparência. Por um outro lado, sempre é tempo para sermos agentes da mudança, na mesma proporção que agentes da Publicidade ou da Comunicação!
E aqui eu gostaria de destacar 3 pilares, que na minha visão, acabam sendo determinantes para elevarmos o número de projetos de sucessos nas nossas empresas (mesmo que ela seja a “EUpresa”):
Modo Pitch vs Modo Real
Ah, aquela apresentação encantadora… aquela versão final fechada no táxi (ou no Uber, que é mais moderno), porque todos demoraram tanto tempo refinando cada detalhe, que a versão apresentada pro cliente não está em lugar algum depois, pois nem se sabe quem foi o último que ajustou.
Se todos os nossos projetos fossem realizados de acordo com tudo que está presente no modo Pitch, com a mesma estratégia, estética, função, viabilidade técnica, preços acessíveis e riscos controlados, a Comunicação estaria 30 anos a frente do seu tempo. Mas não, caro leitor, cara leitora… isso não é verdade!
O modo pitch, em grande parte dos casos está relacionado ao que gostaríamos de ser ou de fazer como empresa todos os dias… e isso envolve:
- Credenciais apresentadas que prometem entregar a melhor empresa que eu poderia contratar, fazendo o potencial cliente até se duvidar do porquê não propiciou esse momento de apresentação antes;
- Processo de trabalho claro, com métodos aderentes a necessidade do negócio do cliente;
- Entrega qualificada da proposta técnica, seja ela estratégica, criativa ou de inovação, onde tudo está embasado, faz sentido, com ações claras e objetivas;
Agora pensa no dia a dia. É assim que você ou sua empresa opera? Se sim, fica os meus parabéns e o desejo que isso se mantenha pois você está no caminho mais adequado entre o desejo e a prática! Do contrário, se preocupe pois essa dinâmica te leva a cenários ainda piores logo, logo.
Mas e agora? Como faço para evitar esse conflito, que gera problemas nas minhas entregas, afinal não tenho condições de ser o que eu pareço ser… devo eu mostrar quem eu sou de verdade? Ou seria melhor eu ser quem eu digo que sou?
Para o bem da empresa no que tange crescimento e solidez, é claro que é melhor eu ser quem eu prometo ser, pois é isso que elevará a credibilidade do meu negócio, com resultados sólidos nos meus projetos.
Fica um exercício de reflexão para você ter com seu time, seus diretores, ou mesmos com os sócios do seu negócio: Como empresa, eu sou quem eu digo ser?!
Pera, tá travando a câmera!
Clientes… eles sempre tem razão, até que meu projeto fracassa e todos colocam a culpa no cliente! Trocou o escopo, perdeu o prazo de aprovação, pediu pra negociar o preço, aumentou a complexidade, não enviou os materiais que disse que enviaria.
Das atividades dentro da Comunicação, talvez essa seja a mais temida por grande parte dos profissionais, afinal alinhamentos com clientes exigem capacidade de negociação, resiliência para entender as mudanças ao longo do projeto, e um raciocínio rápido para pensar em alternativas quando o pior cenário está a sua frente!
Entretanto, tem algo bem importante que ainda falhamos muito: a transparência! Lá vem ela aparecendo mais uma vez. É através dela que construímos relações sólidas que durarão não apenas nesse job, mas em tantos outros com o mesmo cliente.
As melhores relações que construí com clientes não foram apenas através de projetos que deram certo em todos os detalhes, mas, principalmente, naqueles com altíssimos riscos de dar errado, e que a comunicação transparente a cerca das tomadas de decisão, transformou quem poderia ser um “adversário” em um “aliado”, cada um no seu papel, mas com um pensamento coletivo para mitigar problemas e chegar ao resultado esperado.
E aqui vai a nossa segunda reflexão: se ao invés de entregarmos conteúdos para as redes sociais, nosso negócio fosse fritar batata frita, deixaríamos o cliente acessar a nossa cozinha e observar tudo que está acontecendo? O que eu gostaria de esconder?
Lady Murphy!
Não pode seeeer! Foi ela! Não tem outra explicação! Se não foi ela, foi do pessimismo de algumas pessoas envolvidas no projeto, seja o cliente, o time ou o fornecedor!
A quantidade de riscos de todos os lados dentro de um projeto de Comunicação é tão grande, que daria pra criar um departamento que fica conectado a todos, apelidado de VDM (Vai Dar M****). Nomenclatura hype, usada como desculpa para a ineficiência do uso de uma ferramenta que está presente nas mais variadas metodologias de gestão: a gestão de riscos!
Estamos tão acostumados a lidar com o imprevisto; fazer aquela correria gostosa para que o cliente não enxergue nossas falhas de planejamento, que em nenhum momento percebemos que boa parte dos problemas poderiam ser evitados se uma boa análise de riscos envolvidos tivesse sido feita no momento adequado! E sim, galera, tem método pra isso!
A matriz de riscos é uma forma rápida de você mapear tudo que pode ocorrer antes, durante ou depois do projeto, traduzindo no papel tudo aquilo que muitas vezes fica na sua cabeça, no papel de um líder de projetos. A prática é simples: você reúne a lista de todos os riscos que podem ocorrer e classifica de “1” a “5” a probabilidade e o impacto desse risco, sendo o “1” o menor índice, e o “5” o maior índice, conforme tabela abaixo. Após esse levantamento, basta multiplicar um pelo outro e você terá um número final (entre “1” e “25”) e uma classificação do risco. Dessa forma, você consegue classificar de maior a menor, quais são os riscos críticos, altos, moderados ou pequenos durante o seu projeto. Após essa etapa, a sugestão é que você reúna seu time e monte planos de ação para todos os riscos classificados como alto e crítico, pelo menos.
É uma maneira simples e rápida de você compartilhar com o cliente todos os riscos do projeto, logo no início, trazendo mais consistência não apenas à gestão do projeto como um todo, mas também que você está preparado para eventuais mudanças.
Momento reflexão: não temos tempo pra planejar, mas pra injetar adrenalina para resolver problemas, sobra tempo! Esse é escasso e você precisa investir ele de maneira mais inteligente! Para qual marca ou tipo de projeto uma matriz de riscos poderia mudar a percepção do cliente ou do time?
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Por fim, não pareça o modo pitch, seja o modo pitch! Crie laços de longo prazo com seus clientes com uma comunicação franca e transparente, e não deixe que o imprevisto se torne algo comum, tirando toda tua energia! Ela precisa estar cada vez mais na estratégia, e o resto a máquina pode fazer por você, como ja vimos em um outro artigo por aqui! Pequenas ações no dia a dia farão com que você esteja mais e mais próximo do sucesso!
Até a próxima!