Recentemente a gente viu uma onda tomar conta do mundo corporativo. Uma bomba que, para muitas lideranças e donos de negócio, sempre esteve prestes a estourar. Bastava uma ruptura importante no tecido social. Pois é, essa ruptura se chama “pandemia”, e mudou a forma como as pessoas também relacionavam-se com seus empregos.
Pensando nisso, eu pensei em escrever esse FAQ com tudo que conseguimos aprender sobre Quiet Quitting no último mês.
O que é Quiet Quitting? – em poucas palavras
Traduzido como “a demissão silenciosa”. É uma nova postura frente ao trabalho. Na esteira do movimento da Grande Renúncia, um outro movimento começou a surgir nos EUA. Pessoas olhando para seus empregos e tentando equalizar sua balança pessoal entre vida x trabalho, e dizendo que voltariam a fazer apenas aquilo para o que eram contratadas. Nem mais, nem menos.
Esse movimento começa a ser debatido especialmente no grupo do Reddit: Antiwork. Pessoas comentando suas estratégias para reequilibrar essa balança, e trocando experiências sobre como tem sido adotar esta nova postura frente a suas carreiras.
É fazer o mínimo?
Bom, você deve ter percebido que nisso que eu descrevi não tem nada de “demissão” nem nada de “silenciosa” né? Pois bem, algumas pessoas pertencentes a esse grupo de pessoas que adota essa postura, passou a criticar o uso do nome, porque ele poderia sugerir que as pessoas passariam a fazer o mínimo. Ou ainda, fariam de tudo para serem demitidas. O que não é verdade.
Até porque, veja bem, se você pensar, nos EUA nem temos tantos direitos garantidos como os direitos trabalhistas aqui no Brasil, isso nem faria muito sentido. Isso então está mais ligado a um conflito geracional. Pessoas que viram o nome, logo reagiram, e a confusão estava feita.
O Alberto Brandão (@Startupdareal) fez uma ótima retomada de como, geração após geração, sempre surge esta crítica de que a geração seguinte não quer trabalhar. Recomendo a leitura do texto.
Em que contexto chega ao Brasil?
Este movimento não acontece só nos Estados Unidos. Estamos diante de uma geração adoecida frente ao trabalho globalmente, conhecida como a geração do burnout. Uma geração que, quando é colocada de frente a um mundo corporativo que pode cobrar ainda mais de sua saúde, tenta colocar algumas barreiras para não extrapolar o tempo de jornada de trabalho.
Aqui no Brasil isso não é diferente, mas todo o movimento chega em um contexto um pouco mais conturbado do que o americano. Crise econômica, trabalhos precarizados e moeda desvalorizada fazem com que todo o cenário corporativo fique ainda mais desgastante. E algumas pessoas acabam tendo como única opção a saída, para preservarem sua saúde. Mas e o que acontece com quem não tem esse privilégio?
Quiet Quitting é um privilégio?
O debate de privilégio sempre ronda o movimento de Quiet Quitting e também da Grande Renúncia. Quais pessoas podem “se dar ao luxo” de simplesmente, voluntariamente, saírem de seus empregos? Ou de não terem o receio de serem demitidos por justa causa e passarem a recalibrar sua entrega? Bom, certamente estamos falando de pessoas com certo grau de privilégio.
A começar que, no Brasil, esse movimento ficou restrito (por enquanto) a cargos diplomados, ou aqueles conhecidos por “empregos de conhecimento”, feitos em escritórios. Nos EUA foi um pouco diferente, já que boa parte vieram de empregos precarizados como entregadores e funcionários de redes de fast food.
Então, sim, no Brasil estamos falando de pessoas que têm algum nível de privilégio. Contudo, é importante lembrar que, quando estamos falando de direitos trabalhistas, precisamos separar o que é privilégio de direito adquirido. Porque veja bem, não deveria ser uma regalia você batalhar por cumprir apenas o que está sendo pago no contrato, né? Quando a batalha por direitos se torna um privilégio, é quando vemos o quanto estamos precarizados.
Pode configurar insubordinação?
Aqui temos uma dúvida legal. Isso pode configurar o que a CLT chama de insubordinação, e gerar uma demissão por justa causa? Tecnicamente, fazer o mínimo para provocar uma demissão, pode sim levar a um desligamento. Agora, é importante lembrar que isso não é o que o movimento de Quiet Quitting se propõe. Novamente, estamos falando de pessoas reequilibrando sua vida pessoal x trabalho. Você fazer apenas o que está previsto no seu contrato é o previsto em lei. Precisar fazer qualquer coisa para além disso é que pode ser considerado acúmulo de função.
Choque de cultura corporativa
Tudo isso na verdade descreve exatamente o que é um choque geracional no mundo corporativo. Gerações anteriores que tiveram sempre máximas como “brilho no olho”, “vestir a camisa”, “dar 120%” acabam vendo as gerações seguintes romper com esse roteiro que acreditavam ser o único possível. E quando essa geração vê que o seu “legado” não está sendo seguido, tende a reagir negativamente, como isso sendo insubordinação, ou má vontade, ou ainda uma geração sem propósito. Quando na verdade estamos vendo apenas surgir um novo propósito mais alinhado aos interesses da geração entrante no mercado de trabalho.
E esse movimento passa a ser um importante direcionamento e tendência do que irá reter estes profissionais no futuro, já que as empresas precisarão contar com essa mão de obra daqui pra frente.
LEIA MAIS:
Como serão os publicitários do futuro?
O futuro do trabalho: carros voadores? Eu fico com a confiança!
As tendências do futuro do trabalho
10 habilidades fundamentais para alavancar sua carreira
O jovem prefere presencial ou híbrido? Isso muda tudo para a retenção