Pistas para encontrar uma agência com jornada de trabalho saudável em 2022

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Primeiro de tudo, jovem, se você clicou nesse título de artigo, imagino que queira (ou cogite) trabalhar em agência, certo? Ótimo. Sério, isso é ótimo. Mesmo que ao longo dos últimos anos agências tenham virado um alvo de críticas (grande parte merecidas, diga-se de passagem) em função de vários problemas que elas carregam em sua história, esse espaço de trabalho não vai deixar de existir como previram vários gurus ao longo do tempo.

Talvez elas enxuguem de tamanho? Certamente. Se fundam entre outras agências para sobreviver? Muito provável. Mudem seus modelos de negócio? Bem provável também. Mas ainda assim, aparecerão na sociedade como agenciadoras (ou de mídia, ou de talentos publicitários).

Dito isso, novamente, é muito importante que jovens queiram trabalhar em agências. Assim como igualmente importante que queiram trampar com marcas, startups, como creators. Se antes a gente só vendia que publicitário/a poderia trabalhar em um monte de coisa (mas no fim acabava todo mundo sempre tendo que ir pra agência) talvez agora estejamos mais perto dessa realidade. (Talvez).

Mas eu tô falando nesse texto com você, jovem, que decidiu: “bom, eu preciso experenciar agência”. Saiba, jovem, que lugares que repudiam todos os problemas do histórico tóxico de publicidade, eles existem. E aqui eu quero te passar algumas pistas de como você descobrir se você aquele lugar que você tá almejando, tenta a todo custo evitar esse histórico de: práticas abusivas, recorrentes casos de assédio moral e sexual, hierarquia acentuada, jornadas excessivas de trabalho, baixíssimo índice de representatividade, entre outros.

Vamos lá: 

– Primeiro um recorte de privilégio

É claro que a gente tá falando aqui de um movimento de pessoas que podem, em meio a uma crise econômica, social e política no nosso país, se dar ao luxo de escolher em que lugar trabalhar, e é sempre importante manter isso no horizonte. Estamos diante de uma geração de brasileiros que faz parte do movimento A grande renúncia, que mesmo em meio ao caos, prefere evadir de espaços não saudáveis de trabalho e que não o representam. Mas caso não seja seu momento, leve essas dicas como forma de encontrar o melhor lugar possível, **dentro do seu contexto**, uma vez que nem todas as dicas aqui se aplicam a todos os cenários e pessoas.

1ª –  Quais as ações reais contra assédio dessa empresa?

Em 2017 o grupo de planejamento de São Paulo lançou uma pesquisa que mostrava que 90% das mulheres e 76% dos homens já sofreram algum tipo de assédio em agências de São Paulo. Eu sinceramente acho que naquela época (ou refazendo a pesquisa agora) dificilmente esses números seriam diferentes em outros locais do país. 

Nesta pesquisa o grupo sugeriu algumas iniciativas a curto prazo, que são elas, posicionar-se oficialmente sobre o tema, ou seja, distribuir o relatório da pesquisa e declarar tolerância zero à assédio; divulgar canais oficiais de denúncia, criando estes canais ou divulgando fortemente dentro da empresa; e criando materiais de divulgação internos sobre o que é assédio moral e quais medidas tomar. 

Se você estiver em posição confortável de pedir, seja em uma entrevista ou em contato com algum profissional que trabalhe em determinada agência, questione essa pessoa se ela tem conhecimento de atitudes como essa. Lembre-se, novamente: perguntar não ofende, e também, mais uma vez, lembre-se do momento da sua carreira e sua relação com esse futuro possível emprego.

2ª – Procure sobre as políticas dos grupos de comunicação

Boa parte das maiores agências do país pertencem a holdings ou grupos de comunicação, (se não for o seu caso e estiver em um mercado menor, essa dica não se aplica. As próximas são mais úteis). 

Desta forma procure conhecer as diretrizes do grupo de comunicação que a agência pertence. A forma como esses grupos atuam frente a problemas como assédio, jornadas excessivas de trabalho e cultura organizacional, muda diretamente a forma como cada uma de suas empresas opera.

Grupos de comunicação tem diretrizes muito particulares sobre isso, e não raro você encontra ou relatos, ou os próprios Guias de trabalho desses grupos. 

Dica gratuitona: pesquise por Code of business [Grupo da agência]. Dos maiores você encontra 🙂 Daí é google tradutor, e ser feliz (ou não, dependendo do grupo).

3ª – Procure índices de diversidade

O tema diversidade passou a permear muitos assuntos da publicidade. Não à toa, visto que sempre nessa indústria tivemos um atraso importante nesse quesito. O ponto aqui é: comprovadamente, quanto maior o índice de representatividade e inclusão, menos as jornadas serão tóxicas. Isso obviamente não significa dizer diretamente que esses lugares serão perfeitos (ver a última dica), especialmente para as parcelas minorizadas desses grupos, porque ainda temos importantes relatos de lugares que ainda que contratem pessoas diversas, não são acolhedoras para estas pessoas.

Mas, ao menos, mostra uma preocupação com temas sensíveis ao espírito do tempo atual. 

4ª – Converse com seus pares

O problema é, você pode ter sacado até aqui que assuntos assim são mais voltados a grandes grupos, ou grandes agências do eixo rio/sp ou de capitais, né? Bom você tem um ponto, e esses assuntos acabam ficando mais difíceis de verificar mesmo em locais menores. 

Então, uma boa saída pra quem está em mercados menores é: converse com seus pares. Descubra no Linkedin pessoas que já trabalham ou trabalharam em determinado lugar e questione como funciona naquele lugar. Se a experiência foi legal e o que essa pessoa pode dividir sobre lá. Lembre-se novamente dos privilégios que já falamos, mas é importante você saber que no tempo que vivemos, não é mais só você que precisa da empresa. A empresa também precisa do seu talento e trabalho, então, nada mais tranquilo que querer descobrir antes sobre o lugar que você vai passar 8h do seu dia.

5ª – Seja transparente na entrevista

Se você estiver de uma empresa minimamente decente, ela não vai dourar a pílula pra você. Cada RH, ou dono/a, sabe quais são seus gargalos e problemas de produtividade. Queremos crer também que as pessoas não são maquiavélicas ao ponto de enganarem umas as outras, porque se assim for, e o entrevistador mente na entrevista, em duas semanas de trabalho a pessoa já vai perceber que caiu numa roubada né? 

Então, faça as perguntas que você quer saber: 

– gente, como é o fluxo de trabalho, é rotineiro trabalhar até depois do horário?

– vocês tem vagas afirmativas (ou pensam em ter) pra pessoas negras/lgbtqia+ entre outras?

– o regime de contratação, se eu preferir CLT, pode ser?

Perguntar nunca é demais, e com o jeito certo de perguntar, não ofende.
AGORA, caso você sinta que alguém está tentando te dourar essa pílula: não hesite em se valer da dica número 4.

6ª – Eu não vou te recomendar a planilha das agências

Como você deve saber existe no mercado uma planilha feita de forma anônima quase anualmente, onde profissionais ~supostamente~ deveriam responder: como é trabalhar aí? Sobre várias agências você encontra informações. Mas porque eu não vou te recomendar essa opção: porque por ser uma planilha em que os criadores também são anônimos e as respostas anônimas da mesma forma, este espaço é usado muitas vezes para destilar discursos de ódio, racismo, homofobia e misoginia, e, geralmente o propósito inicial acaba se perdendo. 

Mas ainda assim, mais uma vez, eu entendo que este é um dos poucos espaços que as pessoas que não estão em cargos de liderança tem pra manifestar suas posições, já que várias das dicas que eu dei aqui, podem não se aplicar, como já falamos.

Então, em caso de você optar por uma medida desesperada dessas, vá com os olhos preparados para ler esse tipo de conteúdo, e filtre alguns discursos enviesados que você possa ver lá. Só, não me peça o link. 🙂 

7ª – Entenda que não vai ser perfeito

Mas a dica mais importante de todas: entenda que empresas não são perfeitas. Mesmo que eu quisesse te dizer que são, infelizmente não são (e nem serão em breve). Empresas, sejam elas agências ou não, estão dentro de uma cadeia de fatores que podem as levar a ter problemas, mesmo dentro dessas que você filtrou e acreditou ter seguido essas dicas e escolhido a melhor opção.

Isso serve para que você não se frustre, e alinhe suas expectativas. 

Veja, isso não significa dizer que você não deve batalhar por seus direitos e criticar quando ver algo que não condiza com o que você acordou no início. Contudo, saiba separar o que é tóxico e abusivo, do que é só parte do trabalho mesmo. Porque no fim, vão ter coisas chatas, afinal é trabalho. E é só um trabalho (mas isso é papo para o próximo texto).

A gente se vê em alguns dias. 

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