Nem todo profissional precisa fazer dancinha

capa para artigo de Lucas Schuch
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Eu não preciso te dizer que uma boa parcela da nossa sociedade já teve um sonho de ser um influenciador/a digital, né? Uma parcela dessas pessoas conseguiu, de fato. Mas eu preciso te dizer, que a imensa maioria nem queria ser. Vou explicar.

Segundo uma pesquisa recente realizada pela Nielsen, existem 500 mil influenciadores digitais no Brasil. Esse número supera o de engenheiros civis e dentistas, ou seja, é MUITA gente disputando a atenção. Só que tem um fato aqui que a gente precisa lembrar: na imensa maioria, esses influenciadores não tem como sua renda única o trabalho de influência. Na grande maioria também, esses profissionais nem receberam ainda receitas vindas de trabalhos de influência. Segundo uma pesquisa da Youpix e Brunch, somente 16% vivem exclusivamente das receitas deste trabalho.

E é aí que entra o ponto que eu queria debater aqui: com todo mundo sendo um potencial criador de conteúdo, as empresas empregadoras dessas pessoas, deveriam cobrar que elas também divulgassem a empresa onde trabalham? E segundo, pra me destacar e ser contratado, eu preciso, obrigatoriamente, ser um criador de conteúdo?

Agora eu tenho que trabalhar, e ser um influenciador ao mesmo tempo?

Esse problema gera duas situações distintas. A primeira delas é quando a gente tá falando de pessoas na busca por emprego ou no gerenciamento de sua carreira. A gente está vendo uma proliferação de todas as profissões se tornando, de forma quase mandatória, um perfil de produção de conteúdo nas redes sociais. E isso, pelo menos a meu ver, não é saudável.

Veja, um profissional da saúde, ter que entrar em trends de tiktok para atrair mais clientes. Um profissional de educação, ter que investir um tempo da sua vida (que seria destinada a vida pessoal) em criar conteúdo para continuar atrativo para o mercado, é uma sobrecarga que, infelizmente, nem todo mundo vai conseguir arcar (em profissões que, sobretudo, já são sobrecarregadas).

E eu tô aqui usando exemplos de outras áreas para ficar mais fácil para você, profissional da comunicação, entender que não é porque você é um publicitário/a, ou jornalista, ou mesmo trabalha com social media, que os seus perfis sociais precisam ser ativos e produtores de conteúdo. SUAS REDES PESSOAIS NÃO PRECISAM SER SEU PORTFÓLIO, NO MÁXIMO O SEU CARTÃO DE VISITAS. 

O que eu quero dizer com isso? É claro que eu não vou ser ludista aqui, de querer regredir e dizer que ninguém tenha redes sociais, não é isso. Mas ter um número de seguidores e produzir conteúdo constantemente, não deveriam ser sinônimos de você ser um bom profissional. Afinal, onde ficam as pessoas introvertidas? Onde ficam as pessoas low profile, discretas, que não querem ter perfis ativos? Elas continuam sendo boas publicitárias/jornalistas/social media. 

Dito isso, eu acho que é preciso separar o que é “presença digital” do que é “influência digital”, né?

Ninguém vai dizer pra você não usar a internet pra trabalho, nem conseguir vagas, nem nada disso. AGORA, você não deveria precisar se preocupar em produzir conteúdos pras suas redes, trends, e sim, para os seus clientes. E no máximo usar esse espaço para contar as coisas que você já fez. Isso é presença digital, o que é diferente daquela geração de conteúdo, dependente dos algoritmos e calendarização que um influenciador precisa ter.. 

Já é trampo demais fazer o seu próprio trabalho. Uma frase que eu repito muito é: eu, pessoalmente, escolho médicos, professores, etc, inclusive por terem menos seguidores (rsrs), já que eu entendo a dificuldade que deve ser estudar e se especializar em medicina. E por conhecer na prática a dificuldade que é criar conteúdo. Então, por respeito às duas profissões distintas, acho importante essa separação.

E eu tenho que ser um influenciador para a empresa que trabalho?

Lembra que eu falei que existiam duas situações nisso? Pois é, a segunda é um movimento que começa a rolar que eu acho tão preocupante quanto. Empresas começam a entender esse potencial de influência que todo mundo tem, e começam a demandar que as pessoas divulguem a empresa em que trabalham nas suas próprias redes.

Gente, nós temos algumas questões aí, inclusive, algumas questões morais e legais (do ponto de vista jurídico) pra discutir.

Primeiro, isso não pode se tornar mais um trabalho da pessoa, a menos que isso esteja na descrição da vaga, porque esse passa a ter mais um trabalho: divulgar a própria empresa. E eu sei que você pode pensar: “poxa é só um post”. De novo, por entender a complexidade que é criar conteúdo, não é só um post. E veja, não vamos ser ingênuos, a marca empregadora também vai lucrar com essa influência. Se eu e você vendemos para clientes que influência é a moeda do século, então, isso vale dinheiro, e não pode ser dado sem uma remuneração também por esse trabalho para a empresa, né? 

E segundo que, se estamos falando de propaganda promocional de uma marca, isso deve ser sinalizado como propaganda e também REMUNERADA.

E além disso, profissionais já são cobrados diariamente por ~vestirem a camisa~ter sangue no olho~ e ainda precisam usar um espaço privado para divulgarem as ações da empresa onde estão? A gente precisa questionar sempre a sobrecarga dessas pessoas, e lembrar: ISSO NÃO DEVE SER MÉTRICA DE COMPETÊNCIA PROFISSIONAL, afinal, você não foi contratado/a pra isso, né non?

Se em todas as minhas redes pessoais está o meu trabalho, onde está minha vida particular?

E por fim, e mais importante pra mim: estamos em uma indústria dita criativa. A criatividade se abastece dos momentos extra-trabalhos, quando a gente sai do nosso espaço de trabalho, se abastece de outras coisas, e então volta, com olhos e mente renovados, pra produzir melhor. 

Mas nesse cenário em que todas as redes sociais servem ao trabalho, e eu preciso estar marcando presença em todas elas, em que momento do meu dia está a minha vida privada? Meus espaços sociais que não falam de trabalho? Eu e você, que me lê nesse portal há algum tempo, já entendemos que a nossa vida não deve ser só nosso trabalho, né?

Então, bora dialogar, com lideranças, com outros profissionais, sobre os benefícios de ter uma vida privada, e espaços em que não estejamos falando de trabalho, inclusive pra melhorar nossa performance nele. 

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