Hoje não há outro assunto que envolva pessoas que interesse mais do que o combate à desinformação
No mercado de trabalho, quando temos que apresentar um projeto ou um relatório pro chefe/cliente, ele é embasado em fontes confiáveis. Ele traz comparativos entre números do mercado, coletados no IBGE, nas pressroom das plataformas, em pesquisas aplicadas por instituições nacionais e internacionais reconhecidas, nos próprios ambientes do cliente (Instagram Analytics, Facebook Insights, Google Analytics, ferramenta de disparo de e-mails e por aí vai). Cruzamos tudo isso para dizer que a ação X pode funcionar porque seu desempenho médio é X no mercado; ou que o resultado Y das vendas online da empresa não só aumentaram X% (dados internos) como estão acima da média do mercado (dados externos).
Na vida acadêmica, o que eu mais prezo, além da validade e da relevância das fontes, é a minuciosidade dos dados. Tudo tem que ser bem delimitado e, mais do que isso, essa delimitação precisa ser justificada. Se eu escolho analisar A no lugar de B, preciso deixar claro o porquê dessa decisão. Mas não basta ter um problema a responder, porque temos as fontes. Como elas entram na conversa?
Vamos lá: tu acreditaria num estudo que tenha como embasamento o “texto que minha mãe (uma pessoa de confiança, pra mim) me mandou no zap”? Esse texto teria mais valor do que aquelas mesmas fontes que eu citei quando falei do mercado ou das teorias que estão nos livros? E aqui eu não quero ser elitista e dizer que apenas os livros são confiáveis. Não é isso! E é aí que chegamos na política!
Considerando essa relação que temos com a fonte – e a origem da informação – por que consideramos que aquele texto/print/foto que o vizinho manda pelo zap é mais verdadeiro do que a notícia que está no site da Folha, na tv ou no rádio? Ou ainda, é mais aprovado – e compartilhado, claro! – do que aquele texto que passou por um processo de pesquisa, entrevista, contato com diferentes fontes? Por que o post que diz “deu agora na rádio X da cidade Tal” tem mais peso e consideração do que a própria notícia em uma rádio?
Temos, de fato, uma crise das instituições. De modo geral, não acreditamos mais nos políticos, nos governos, na igreja, na justiça, na imprensa (que é golpista pros dois lados, independente de quem fale bem/mal). Não confiamos em “ninguém”, apenas nas pessoas que estão perto. Então, o que aquele vizinho que eu conheço há algum tempo diz acaba tendo mais relevância e confiabilidade do que aquilo que pessoas externas e com interesses que eu muitas vezes desconheço dizem.
Esse trecho acima eu escrevi em 2018, na véspera da eleição para presidente. E sabe o que me entristece? Saber que não só ele continua atual, como a situação está ainda pior. No episódio 819 do podcast O Assunto (saiba mais aqui), a Renata Lo Prete fala sobre como a desinformação, com mentiras e distorções dos fatos, está tumultuando a eleição com um jogo bem sujo que engana as pessoas, desafia a justiça – e, principalmente, nos leva a um caos informacional sem precedentes.
E o que a gente faz? Busca informação! Verifica fontes, delimita os dados e compara entre iguais (A com A e não A com B)… Pra ajudar, vou deixar uma dica aqui: o site sobre fake news do Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin) ajuda a entender o que o compartilhamento de fake news pode causar. Além de disponibilizar um guia rápido sobre o assunto em formato de e-book.
O podcast Guerras Culturais – uma batalha pela alma do Brasil, do Globoplay, mostra na prática como a desinformação opera e promove o caos. Nos 8 episódios, o pesquisador Pablo Ortellado e a jornalista Elisa Martins mergulham no fenômeno das guerras culturais. Eles trazem pautas como ideologia de gênero, marxismo cultural, kit gay (alerta de gatilho), escola sem partido, a discussão sobre o que é arte e cultura, que causam as disputas politizadas sobre o que é o certo e o errado, sobre o bem e o mal, que tão bem conhecemos.
Já se tu quer uma coisa mais “leve” (bem entre aspas, mesmo), indico o Braincast do dia 29 de setembro (ali na portinha do primeiro turno), que também traz vários insights sobre o efeito das fake news e das estratégias de comunicação, principalmente digital.
Pra fechar, um pedido. Vote pela democracia, contra o ódio e por mais humanidade. E se ainda estiver em dúvida, ouça o editorial do Bruno Natal nesse episódio do Resumido. Vale o play, vale a reflexão. Ainda dá tempo.
* Esta coluna foi escrita por um colunista parceiro e não representa a opinião do Share.