Todo profissional criativo, em algum momento, sente a pressão invisível de precisar ser “genial”. O mercado e a própria mente exigem ideias nunca vistas, soluções que rompam com todas as referências. A cobrança vem de fora, mas também se instala dentro da cabeça.
Neste artigo, proponho refletir sobre a diferença entre originalidade e autenticidade na produção criativa e entender por que, muitas vezes, ser autêntico liberta mais (e funciona melhor) do que perseguir a originalidade a qualquer custo.
Nem tudo que é original é autêntico, e nem tudo que é autêntico é original.
Nem tudo que é original é autêntico, e nem tudo que é autêntico é original.
Enquanto a originalidade se relaciona ao inédito, aquilo que nunca foi feito, a autenticidade nasce da coerência com quem somos. A originalidade impressiona por ser surpreendente. A autenticidade toca por ser verdadeira.
Quando uma obra é autêntica, ela transmite algo real sobre quem a criou ou sobre a essência de uma marca. Mesmo que use temas ou formatos já conhecidos, ela carrega identidade.
Pense em uma campanha publicitária. Ela pode inovar tecnicamente, mas soar vazia se não tiver alma. Em contrapartida, um conteúdo que revisita uma ideia antiga pode emocionar se expressar com honestidade a visão de quem o criou, seja uma pessoa ou uma empresa.
Como disse Blaise Pascal:
“Que ninguém diga que não disse nada de novo; a disposição do material é nova. No tênis, ambos os jogadores jogam a mesma bola, mas um a joga melhor.”
Nada se cria, tudo se copia.
Alguns criativos radicais afirmam que a originalidade é uma ilusão, pois tudo parte de algo que já existia. E Austin Kleon, autor do best-seller “Roube como um Artista”, concorda.
Segundo ele, “nada é totalmente original”. Toda criação se constrói sobre referências. O que torna um trabalho valioso não é a ausência de influências, mas a forma única como o criador as filtra.
Em vez de buscar algo que ninguém nunca viu, Kleon recomenda coletar ideias que ressoem com você, remixá-las e aplicar sua sensibilidade. Esse processo dá origem a um trabalho autêntico, porque revela a maneira singular com que você conecta e combina elementos do mundo.
Ou seja, a verdadeira originalidade surge quando você imprime sua identidade naquilo que cria.
A Obsessão pela originalidade e o bloqueio Criativo
Inovar é essencial. Mas a obsessão por ser original, em vez de impulsionar, pode travar o processo criativo. Muitos profissionais paralisam diante da página em branco ao pensar que tudo já foi feito. Isso alimenta um ciclo de frustração, ansiedade e procrastinação.
O medo de não ser original o suficiente transforma o ato de criar em algo doloroso. Disfarçado de perfeccionismo, esse medo sabota projetos que nem sequer começam.
Além disso, tentar ser totalmente original pode gerar produções que não se conectam com ninguém. Se algo é tão novo que ignora qualquer referência ou experiência compartilhada, ele corre o risco de soar frio, sem significado ou vínculo emocional.
O artista D’Arce acredita que, ao buscar criar algo completamente único, podemos dificultar a conexão com a própria obra e com o público.
Autenticidade na era do conteúdo produzido em massa
Vivemos em uma era onde o conteúdo virou commodity. Com as ferramentas de Inteligência Artificial generativa, tornou-se fácil produzir textos, imagens e vídeos em escala. O resultado é um ambiente digital saturado por posts parecidos, marcas repetindo fórmulas e modismos efêmeros.
Não que tendências não existissem antes, mas a hiperconexão amplifica e acelera tudo. Nesse cenário, o público passa a desconfiar do que parece excessivamente artificial. E é aí que a autenticidade se destaca como valor real.
Ser autêntico, em meio à repetição, tornou-se algo raro. E tudo aquilo que é raro passa a valer mais. Chamo isso de teoria da utilidade marginal do conteúdo.
A ascensão da IA só reforça a importância de sermos mais humanos. Se robôs conseguem gerar conteúdo em segundos, precisamos entregar aquilo que eles não têm: experiências reais, emoções sinceras e perspectiva própria.
Originalidade e autenticidade não precisam competir. Mas talvez valha entender qual delas funciona como bússola e qual se apresenta como destino.
Ao buscar autenticidade, você recupera o prazer de criar. Liberta-se da cobrança por aprovação e se reconecta com sua verdade. E, ironicamente, ao parar de perseguir o novo e focar no que é real, você alcança a originalidade que realmente importa.
Em um mundo de cópias e algoritmos, a pergunta que cada criador precisa fazer não é “minha ideia é original?”, mas sim: “ela é verdadeira?”
Para finalizar, trago uma C.S. Lewis que sintetiza este artigo.
“Ninguém que se preocupa demais em ser original jamais o será; ao passo que, se você simplesmente tentar dizer a verdade, acabará se tornando original sem perceber.”







