As demissões em massa e os reflexos trabalhistas

Capa para artigo de Lucas Schuch sobre as demissões em massa
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São tantas demissões, que é difícil acompanhar o que está acontecendo com as empresas de tecnologia. Esse artigo, infelizmente, não tem o objetivo de trazer um olhar otimista, tão pouco uma análise das razões pelas quais essas empresas de tecnologia passam por esse tipo de demissões em massa. E, ao que tudo indica, ainda serão maiores.

Mas eu queria debater aqui algumas reflexões do ponto de vista trabalhista e como isso tem impactado o olhar das pessoas para a suas relações com o trabalho.

Se olharmos para o panorama geral, muitas empresas de tecnologia demitiram grande parte dos seus times. Várias destas optaram por mandar embora boa parte do time de marketing. E não à toa, uma parte do meu linkedin nas últimas semanas tem sido de textos emocionados (e outros raivosos) de desligamento dessas empresas.

Meta foi a empresa que mais demitiu, certamente. 11 mil pessoas. Twitter, entre as realmente grandes, foi a que mais demitiu proporcionalmente ao tamanho da sua equipe. 50% das pessoas. Amazon, demitiu só 3%. Ótimo né? Não, já que 3% significa 10 mil pessoas para a Amazon. (Se você quiser ver mais dados como esse, no site layoffs.fyi tem todas as demissões da área que já passam de 100 mil).

Veja, só nessas três empresas, rapidamente, estamos falando de quase 25 mil pessoas que ficaram sem empregos. Bom, você também deve ter lido os relatos das histórias tristes e únicas dos desligamentos por aí. Esse artigo não vai te trazer a versão otimista do copo meio cheio. Mas eu queria me ater aos reflexos sobre o mundo corporativo que isso tudo traz. Especialmente sobre como as pessoas, enquanto funcionárias desses lugares, podem ter que viver diariamente com essa sensação a partir de agora.

A montanha russa de startups e big techs

Empresas como as startups recebem dinheiro de investidores. Não dão lucro, em essência. Mas operam pegando dinheiro de investidores, na esperança que esse dinheiro se pague um dia. Agora, veja. No começo dos anos 2010, as startups estavam em franca expansão. O dinheiro dos investidores estava lá disponível, na esperança que em 10 anos, por aí, ele estivesse retornando. Bom, já se passaram 10 anos. Essa fonte de dinheiro, que parecia inesgotável, secou, e chega o momento que estamos vivendo do “inverno das startups”. Para que essas empresas passem a dar lucro, elas precisam cortar gastos, já que boa parte delas, obviamente pós Covid, cenário de guerra e tudo mais, afeta o poder econômico das pessoas mesmo.

O ponto aqui é: em um cenário de franca expansão, você não teme pelo seu emprego. Agora, como você lida com o fato de estar trabalhando para empresas que têm seus investidores no pé das suas lideranças, cobrando lucro. E em um cenário de crise, você vai acordar todo dia com o receio de que seu trabalho está mais ameaçado (que no período de expansão). A própria Amazon já anunciou uma nova rodada de demissões em 2023. Como isso afeta a produtividade e saúde mental dos empregados? 

E olhando para o foco dessa coluna, como isso afeta pessoas que o seu trabalho é ser diariamente criativo/a, como as áreas de marketing e comunicação? Como você se mantém criativo com um barco afundando (ou pelo menos em risco de afundar)?

Como foram essas demissões

Além desse cenário catastrófico para todas essas pessoas, os relatos de como foram essas demissões, dado o tamanho dessas corporações, não são nada agradáveis. No Twitter, por exemplo (e nesse caso, óbvio, somam-se todos os erros de gestão de Elon Musk) mas estamos falando de pessoas que souberam pela imprensa, que os desligamentos seriam feitos via e-mail, e que caso recebessem um e-mail, não precisariam nem retornar. 

Outros relatos falam de pessoas que simplesmente perderam o acesso aos computadores. E-mails do setor de RH avisando que a pessoa foi desligada e receberá o que lhe é devido. 

Esse é um traço bem importante desse tipo de empresa que, nesse momento de crise, mostra como trata as pessoas em um momento difícil como esse. Veja, isso não significa dizer que todas as startups são assim. AGORA, não podemos negar que, MAJORITARIAMENTE, empresas como essa trabalham 24h por produtividade e números. Quando você não é mais necessário, você vira dispensável, e toda a energia humana que essas empresas possuem, se voltam para as pessoas que ficam e precisarão ser produtivas, não as que serão dispensadas. O ponto importante disso, são os reflexos na cultura corporativa que isso trás.

Você é substituível

A imensa maioria das postagens que eu vi (e isso está sim, enviesado pela minha bolha, tá?), mas o fato é que mesmo na minha bolha, eu nunca tinha visto tantas postagens criticando o sentimento de “família” que empresas tentam criar. E nessas demissões, vemos que o sentimento de família não existe.

Ao menos no universo das startups, a gente já começa a ver algo que eu acho que pode ser um traço da cultura corporativa dos próximos anos. Esse despertar de consciência em relação à romantização do trabalho como parte da sua vida. Falácias de produtividade como “sangue no olho”, “sentimento de dono” e tantas outras, começam a ser questionadas como parte dessa revisão de cultura, já que as pessoas começam a perceber o quanto são um número sobre produtividade. 

O que é importante perceber sobre essa ruptura com a romantização do trabalho, é que isso não significa dizer que as pessoas vão deixar de ser produtivas. E sim que vão procurar uma melhor relação entre sua dedicação e o que recebem em troca dessas empresas. Movimentos recentes como a Great Resignation e o Quiet Quitting, promovido pelas novas gerações, somam-se às tendências desse despertar em relação ao trabalho que vivemos. 

Cabe às empresas desse novo mundo pós-pandêmico entender como motivar as pessoas nesse novo tempo, em que elas entendem que são apenas uma parte de uma engrenagem, e que suas vidas não são (apenas) definidas pelo seu cargo no crachá.

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