Estamos sempre tentando separar a vida profissional e vida pessoal, como se de fato nós, como seres humanos, tivéssemos um botão de liga e desliga. Como se no fim do dia fosse possível deixar a vida profissional de lado, e se preocupar apenas com os afazeres de casa, ou a vida social. Como se no trabalho, pudéssemos também não pensar nos problemas que nos esperam após o fim do expediente.
Pensando no metaverso, é como se fossemos avatares. Vou pegar o avatar do trabalho, depois eu pego o avatar de pessoa física.
Mas no mundo real, a gente é uma pessoa só
Quando tu trabalha numa área de indústria criativa, como é o caso da minha agência, por exemplo, e outros setores similares, tu precisa usar a cabeça. Porque a criatividade nos treina a pensar, a solucionar problemas, a pensar problemas.
Então, chega a ser bizarro pensar na possibilidade de alguém conseguir ser criativo, etc, etc, dentro do processo, estando mal, certo? Como acontece quando alguém está de luto. Como é possível pensar e ser criativo, de luto?
aí nos dizem:
“ah, mas tem que saber separar as coisas”
não, não, cara. Não temos que separar as coisas.
E nós, como gestores, como RH, como líderes, temos que entender que as pessoas vão ser no trabalho, o reflexo daquilo que elas são no dia-a-dia. E no dia-a-dia, serão reflexo do trabalho.
Uma pessoa introvertida na vida, será uma pessoa introvertida no trabalho, por exemplo. Mas isso não é um problema.
Outras coisas, no entanto, são comuns da vida pessoal e podem resultar em uma entrega menor no trabalho, como quando uma pessoa está tendo problemas familiares, no relacionamento, com os pais, etc.
Nesses casos, uma ajuda psicológica pode resolver. Então se nós, como gestores, podemos ajudar a pagar essa terapia, porque não fazemos? Se um colaborador está com dificuldade de pagar a faculdade, seja pelo motivo que for, e a gente pode ajudar a pagar a faculdade, por que não?
Se você não tiver um motivo bem claro para dizer não, a resposta é sim
Você deve ter claro porque isso não é possível. Se não estiver claro o motivo pelo qual não se pode ajudar, é porque dá. Se dá, por que não ajudar?
As pessoas precisam estar bem para dar o seu melhor, sabe? Psicologia, comportamento humano, gestão de pessoas, são necessárias para as pessoas entenderem as pessoas.
E não é o clichê “está tudo bem?” que vai resolver. E a culpa não é daquela pessoa.
Não é falta de profissionalismo, é que a vida é imprevisível
Existem coisas que podem acontecer que fogem da nossa alçada, fogem da nossa capacidade de gestão profissional, tanto na individualidade quanto na gestão de equipes.
Temos que entender isso e olhar para isso. Não dá só para ficar medindo produtividade por produtividade. As pessoas não são números e elas não têm que ser tratadas somente como numerais em uma equação.
Não é porque a gente chama de cultura data driven, que temos que incluir a gestão de pessoas no conceito. As pessoas não são dados para serem monitorados.
Então, o que a gente pode fazer da porta para fora para ajudar alguém? O que a gente pode fazer da porta para fora para acolher alguém? Como saber se de fato a não execução plena de um trabalho, por exemplo, está atrelada a um problema externo que está respingando internamente, ou a um problema interno?
Quando alguém diminui a produtividade por conta de problemas, sejam eles na esfera que forem, muitas vezes a correção não depende somente da pessoa.
Às vezes pode se tratar de um profissional ruim, mas é muito fácil sempre colocar a culpa no profissional. Ah, ele é ruim. Tá, ele é ruim? Cara, conversa uma, duas, três, quatro vezes. Não deu certo, aí realmente você pode dizer que ele é ruim.
A reflexão que eu quero deixar hoje, é para nós, enquanto gestores: o que tu fez como líder para entender essa pessoa e entender o que torna ela ruim? O que fez ela se tornar ruim nas entregas?
No fim do dia, tudo é uma questão de empatia. Procure entender o outro, antes de apenas julgá-lo. As pessoas, muitas vezes, só não sabem como pedir ajuda.
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