Minha primeira liderança foi aos 20 anos, na minha primeira experiência CLT, logo depois que finalizei a etapa de estágios. E não, naquele momento eu não achava que era o momento, tanto que fui pega de surpresa.
Estava há alguns meses em uma agência, minha chefe (e amiga que hoje levo pra vida) saiu de férias. Nesse meio tempo, entraram sete clientes grandes para o nosso time, e acabei liderando esse movimento. Quando ela retornou das férias, me colocou em uma sala e falou: “Isa, vou me demitir”.
Eu, em um mistura de tristeza e surpresa, ouvi na sequência “E eu vou te indicar para a minha vaga”. Lembro que só respondi um “Mas tu acha que eu estou pronta?”, e ouvi um “Sim”.
Nunca passou pela minha cabeça que aquele era o momento, mas, como sou uma pessoa que adora novos desafios, topei. E que trajetória! Liderar um grupo de cinco pessoas, assim, de primeira, é errar, aprender, errar de novo e aprender muito mais.
Liderar é muito mais do que ser um especialista no assunto que você vai estar tocando com a sua equipe. É sobre pessoas, cuidado, sensibilidade, ouvir. E o mais importante, sobre trocas.
Separei alguns pontos que aprendi nesses oito anos:
1) Transmitir a cultura — e mostrá-la na prática
No livro “A Regra é não ter regras” de Reed Hastings, CEO da Netflix, onde ele compartilha alguns princípios da cultura da empresa, me deparei com um ponto que parece óbvio, mas que, às vezes, não é colocado em prática pelas lideranças.
“Como líderes, o que dizemos é apenas metade da equação. Nossos funcionários também estão de olho no que fazemos. Se eu disser ‘Quero que você encontre um equilíbrio saudável e sustentável entre sua vida profissional e a pessoal’, mas ficar no escritório doze horas por dia, as pessoas vão reproduzir minhas ações, não minhas palavras.”
Parece óbvio, né? Mas o quanto a gente coloca em prática algumas coisas, de forma consciente, a ponto de elas se tornarem naturais e evidenciarem para o time o que é realmente a cultura da empresa?
Por exemplo, todos sabemos do nosso horário de almoço, entretanto, quantas vezes nos pegamos pulando esse momento simplesmente porque estamos tão imersos na entrega que muitas vezes nem paramos para ver o relógio? Ou porque queremos adiantar alguma coisa?
Pode parecer bobagem, mas o fato de tornar isso quase uma rotina e transparecer para a sua equipe, mesmo que você não queira (ou peça) que eles trabalhem no almoço, pode gerar algum tipo de pressão indireta que faça com que eles trabalhem no almoço.
São detalhes. Mas os detalhes sempre importam.
2) Não centralizar as demandas
Nos meus primeiros anos no mercado — e até na primeira experiência de liderança –, sempre recebi feedbacks dos meus superiores de que, em algumas ocasiões, eu centralizava muito as informações ou as demandas.
Muitas vezes isso acontecia inconscientemente. Eu queria compartilhar, mas a vontade de entregar com mais agilidade ou de “não ter tempo” para ensinar outra pessoa naquele momento específico fazia com que eu centralizasse algumas coisas.
Isso requer maturidade profissional, porém o momento que você entende que PRECISA criar uma cultura de compartilhar as informações e, principalmente, de confiança na sua equipe, é único.
Porque lembre-se: um time é composto por diferentes pessoas, com diferentes pontos de vista. E é isso que vai fazer uma entrega ok se tornar uma entrega FODA.
3) Confiar no seu time
Do segundo ponto, entramos neste aqui: você precisa confiar no seu time.
Claro que esse é um processo, seja uma pessoa nova ingressando no grupo, seja você entrando para liderar uma equipe que já existe. Entretanto, para isso acontecer, você precisa dar espaço para a construção desse laço de parceria e confiança.
E, quando isso acontecer, é necessário dar espaço e acreditar nas entregas das pessoas. Às vezes, alguém não tem tanta experiência em determinado assunto, mas é tentando, vendo como funciona e estudando que ela vai “chegar lá”. E, a partir disso, você vai direcionando essa pessoa de acordo com os objetivos da entrega, da empresa e do cliente.
4) Trocas constantes — e diárias
A sua pauta pode estar lotada, mas você precisa ter um tempo para kick offs ou checkpoints com o seu time. Esse momento de troca é fundamental para alinhar os percursos dos projetos, objetivos e expectativas. Mostrando que você está ali, presente, sempre disposto a ouvir.
5) Dar espaço para as pessoas se expressarem e criarem — e ouvir elas
Ao ouvir o seu time, você vai entender quais são os pontos que não estão ajudando na performance da equipe, impactando o tempo de produção da entrega ou diminuindo o processo criativo, por exemplo.
E também vai entender quais estão funcionando. Mas o importante é sempre ouvir e realizar trocas para entender quais pontos estão dando certo e quais podem ser aprimorados.
Acredito muito que, por mais que a gente saiba que algo funciona, ele tem que ser considerado um eterno beta. Temos que estar sempre dispostos a testar, transformar, aprimorar. Principalmente no mercado da produção de conteúdo, onde as plataformas e os algoritmos mudam o tempo inteiro.
6) Trazer perguntas, ao invés de apenas respostas
Um ponto muito curioso, que de tempos em tempos entra nos debates, é o do gosto pessoal. Os retornos que você dá à sua equipe sobre alguma entrega criativa são realmente algo relevante ou apenas um gosto pessoal? Ou algum processo que você já está acostumado?
Por isso, seja a entrega de alguma peça visual ou uma interação com a comunidade nas redes sociais, às vezes, o melhor caminho é chegar às respostas trazendo algumas perguntas para a conversa:
- Será que não teríamos uma cor que daria mais contraste?
- Isso vai dar leitura no mobile? O quanto isso vai impactar a tela do usuário?
- Esse texto não pode ser interpretado de tal forma? É isso que queremos transmitir?
O resultado final pode ficar muito mais forte caso, como equipe, juntos, todos refletirem se aquela realmente é a melhor opção de entrega.
Então, respondendo à pergunta que norteia as reflexões desse texto, acho que você nunca vai saber o momento exato que está preparado para se tornar um líder, mas estar aberto a mudanças e em uma constante reflexão sobre experiências, pontos de vista e atitudes são os primeiros passos para isso.
Até a próxima!