Tatuagem: Estilo, Ancestralidade ou Modismo?

Clique Aqui e saiba mais

Desde pequena sempre me senti atraída pelo conceito de tatuagens, relacionando a ideia de marcar meu corpo alegoricamente na forma de cicatrizes intencionais: desenhos propositalmente alocados para servirem de totens pessoais, que cumprem o papel de uma marca temporal, um lembrete e uma memória.

Mas… Nem todo mundo pensa assim. Em algumas culturas, tatuagens são associadas a contracultura, revolta, perigo e até crime organizado. Em outras, são vistas como belos ritos de passagens, marcas identitárias de uma tribo e senso de pertencimento. No Brasil, nas últimas décadas, podemos dizer com propriedade que virou moda.

O que está para além da superfície e da epiderme tingida?

Convidei minha amiga de longa data, designer, pesquisadora de Antropologia e Psicologia Social, Giselle Prado, para comigo mergulhar nessa prática controversa que tange a arte e a cultura.

Um olhar antropológico sobre a tatuagem

O que a antropologia tem a dizer sobre essa prática milenar que tem se expandido nos últimos anos? Muitos estudiosos acreditam que as tatuagens datam de 5.000 anos atrás, com achados arqueológicos no Egito e na Sibéria. Elas eram uma parte importante das culturas antigas, usadas para expressar identidade, status social, ou até mesmo como um rito de passagem. Artistas renomados, como o antropólogo Franz Boas, desempenharam um papel fundamental na documentação dessas práticas culturais.

Franz Boas foi um antropólogo notável do final do século XIX e início do século XX, e ele teve um papel importante na documentação e interpretação das práticas culturais de várias sociedades, incluindo a prática da tatuagem. Boas acreditava que as tatuagens eram mais do que simples decorações corporais; ele via as tatuagens como elementos essenciais da cultura e da identidade das sociedades em que eram encontradas.

Através de suas pesquisas, ele ajudou a desvendar o significado cultural e simbólico das tatuagens em diversas culturas indígenas, contribuindo para a compreensão da diversidade cultural e da importância das práticas de tatuagem em diferentes contextos.

Metamorfose cultural das tatuagens

No decorrer dos anos, as tatuagens passaram por uma metamorfose cultural. A transição da tatuagem de uma prática tabu para uma forma de expressão pessoal e artística aceita varia de acordo com a cultura, o tempo e o contexto histórico. Não há uma data específica em que a tatuagem deixou de ser tabu, pois essa mudança foi gradual e continua a evoluir. No entanto, podemos identificar alguns marcos importantes ao longo da história que contribuíram para a aceitação crescente das tatuagens. E aqui trago alguns desses pontos de virada.

Durante o século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, as tatuagens começaram a ser mais amplamente aceitas no mundo ocidental. Artistas renomados, como Sailor Jerry e Ed Hardy, desempenharam um papel importante na popularização da tatuagem como forma de expressão pessoal.

E mais especificamente, a contracultura dos anos 1960 e 1970 desafiou as normas sociais e culturais, incluindo a aceitação da tatuagem. Os movimentos hippie e punk contribuíram para a crescente popularização das tatuagens como símbolos de rebeldia e autenticidade.

Tatuagens levantavam bandeiras, abriram (ou fechavam portas), tornavam você mais você, ou parte de um grupo; te exaltava ou te marginalizava.

A tatuagem é um adereço, um adorno, uma marca e um brasão que você não pode tirar. Pode ser parte de você para fora, ou uma memória que não sai na chuva.

O tempo passou, ondas e tendências vem e vão e com isso, a tatuagem se tornou mais mainstream com a influência de celebridades e músicos que exibiam suas tatuagens de maneira visível e isso com certeza ajudou a tornar a prática mais aceitável e até mesmo desejável.

À medida que a sociedade se tornou mais inclusiva e diversa, as tatuagens passaram a ser vistas como uma forma legítima de expressão pessoal, representando identidade e valores.

Com ajuda da disseminação da internet e das mídias sociais, isso permitiu que as pessoas compartilhassem suas experiências com tatuagens, fornecendo informações sobre cuidados, estilos e artistas. Isso tornou a tatuagem mais acessível e menos misteriosa.

Além disso, a diversidade de estilos e técnicas de tatuagem oferecem opções para atender a uma ampla gama de gostos e preferências estéticas, tornando a prática mais atraente para um público diversificado.

Atualmente, a tatuagem transcende fronteiras culturais e sociais podendo tomar forma de expressão pessoal, artística e até terapêutica. É uma maneira de contar histórias, homenagear entes queridos, marcar fases e explorar a criatividade. Existe uma nova leveza na tatuagem, o fazer “porque sim” – sem grandes consequências.

Não apenas como os outros vêem a tatuagem mudou, mas como nós interagimos com a ideia da tatuagem também.

Mas como?

Expressão Pessoal:

  • Identidade e Autenticidade: Muitas pessoas usam a tatuagem para expressar elementos de sua identidade, como valores, crenças, histórias de vida e traços de personalidade. Tatuagens podem representar a autenticidade do indivíduo e servir como uma maneira de mostrar ao mundo quem eles são.
  • Homenagens e Memórias: Tatuagens frequentemente são usadas para homenagear entes queridos que passaram ou para celebrar momentos significativos. Elas são uma forma de manter vivas as memórias de pessoas e eventos especiais em nossas vidas.

Expressão Artística:

  • Criatividade e Design: Muitas pessoas veem seus corpos como uma tela em branco onde os tatuadores são os artistas. A tatuagem é uma forma de expressão artística, na qual o corpo se torna um meio para a criação de obras de arte únicas e personalizadas.
  • Inovação e Tendências: Tatuadores contemporâneos frequentemente empregam técnicas inovadoras e estilos artísticos diversificados, o que contribui para a evolução constante da tatuagem como forma de expressão artística.

Terapêutica:

  • Cura Emocional: Algumas pessoas encontram na tatuagem uma maneira de lidar com traumas ou experiências emocionalmente desafiadoras. O ato de escolher uma tatuagem, o processo de tatuagem em si e o resultado final podem ser terapêuticos, ajudando na cura emocional.
  • Empoderamento: Para alguns, tatuagens têm um efeito empoderador, ajudando-os a superar inseguranças, cicatrizes ou experiências negativas. Elas podem servir como uma ferramenta de auto aceitação e aumento da autoestima.

A tatuagem que nasce do cultural derrama sua tinta no individual. Pessoas fazem tatuagens em festas e pessoas ocupam cargos de liderança tatuadas. O mistério, misticismo e peculiaridade do ato de tatuar e ser tatuado mudou de forma. Hoje vestimos tatuagens como roupas – precisando tomar cuidado para não sermos marcados por modismos.

Uma das formas de testar os limites do corpo é fazendo um test-drive de tatuagem. E como isso poderia ser possível? Henna? Impreciso demais. Tatuagem temporária? Genérico demais… E se conseguíssemos colocar na gente, só que no computador?

Ano passado, O Cérebro com o tatuador Rodrigo Brandão fizeram uma collab de milhões, ou poderia ainda dizer, de simoleons. O Rodrigo desenhou uma família de ilustrações do universo d’O Cérebro e implementamos no The Sims 4, para você vestir seu alter ego no estilo característico RubberHose sem precisar nem sair de casa. Só baixar as tatuagens como conteúdo personalizado do jogo (clicando aqui). Se apaixonou? Que tal também levar uma camiseta ou uma canequinha?

Obrigada por nos acompanhar até aqui!

Esse artigo foi construído a quatro mãos!
Giselle Prado e Pip Seger.

Giselle Prado é Designer, Pós Graduada em Psicologia Social, Antropóloga e Especialista em Pesquisa de Tendências e Comportamento que explora a interseção entre criatividade, psicologia, tecnologia e cultura.

Clique Aqui e saiba mais

Compartilhe:

Pip Seger
Fundadora, Head de Concept e Direção de Arte na agência ‘O Cérebro’, de Branding e Naming com base em 4 pilares teórico-metodológicos: Neurociência, Psicologia, Antropologia e Semiótica. 
Mestre em Psicologia Social na USP, Especialista em Branding pela IE. Business School de Madrid e Designer Gráfico formada pela Belas Artes. Professora e Palestrante. Co-host do Podcast O Neurônio.
1

Comentários