A verdade inconveniente do cancelamento é que a gente adora ele. Temos prazer. Eu, você e “todo mundo”. É claro que eu, você e “todo mundo” vamos dizer que não, mas a verdade é que em algum ponto nos deliciamos com ele.
O cancelamento está enraizado na cultura humana e não é de hoje. Há centenas de anos os cancelados eram degolados em praça pública, apedrejados em longas caminhadas na frente de todos. Naquela época o linchamento presencial era muitas vezes a diversão do povo que assistia reagindo com palmas e gargalhadas.
Você pode estar pensando: “o Alf está generalizando”. Estou, pois o cancelamento só acontece quando a gente tem volume, ou seja, a conta não fecha. Se tanta gente é contra, como temos cada vez mais casos? A gente cancela sem se dar conta. Cancela o colega de trabalho que comete uma gafe, cancela as mulheres que por serem elas mesmas, cancela quem pensa diferente, cancela até mesmo participantes de um jogo na televisão.
O cancelamento é uma ferida antiga e exposta desde sempre, mas tem se espalhado de forma exponencial com a internet e os smartphones. Chico Buarque cantou a pedra na década de 70: “Joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um maldita Geni”. Nós somos quem joga pedra e cospe na Geni, mas em nenhum outro momento do mundo tivemos tão vulneráveis a nos descobrirem como a próxima Geni.
Muito cuidado com os seus julgamentos, o cancelamento está mais próximo do que você imagina.
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