Os humilhados serão cancelados: uma reflexão sobre julgamento online e reputação

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Eu ainda estou finalizando a leitura do livro “Humilhado – como a era da internet mudou o julgamento público“, mas já quero começar a falar sobre ele, até porque a leitura tem me proporcionado várias reflexões sobre presença digital, cancelamento e humilhação, e comunicação.

Antes de pegar o livro (obrigada, Paula, pelo empréstimo!), eu já conversava muito sobre essa pauta. Falei sobre cancelamento nesse artigo e, mais recentemente, em casa com o Jerri – também conhecido como meu marido. E ele sempre foi muito enfático sobre uma ausência digital, ou melhor, sobre não postar, e se dedicar apenas a consumir conteúdo. Observando bem de longe alguns casos, ele percebeu que tudo que a gente diz vai ser usado contra nós, vai ser entendido de uma forma que se volte contra nós. 

Como (eterna) estudante de comunicação, eu tenho o entendimento de que nós somos responsáveis por aquilo que dizemos, e não temos gerência sobre o que as pessoas entendem. Usamos estratégias para nos comunicarmos da melhor forma e nos fazermos entendidos do jeito que queremos. Mas comunicar, falar, escrever não é impor o nosso ponto de vista ou entendimento para as outras pessoas, pois cada um tem o próprio repertório, ideologia, conhecimentos anteriores e visão de mundo – e tudo isso impacta na interpretação que dá àquilo que nós comunicamos. 

No momento que cada um comunica, se coloca em uma posição e assume a identidade inerente a esse lugar: eu, por exemplo, quando me posiciono aqui como articulista, transmito a ideia de que sou uma especialista no assunto e, por isso, tenho autoridade para falar. Mas outras pessoas também têm essa autoridade e podem discordar, podem dizer que eu estou errada. Isso é saudável, pois é conversa, é troca. O que não é saudável é se apegar a um ponto específico e sair acusando a pessoa, humilhando-a publicamente, como acontecem nos casos narrados no livro.

Tudo isso converge com o que o Jerri fala. É esse eterno cancelamento que nós vemos nas plataformas sociais. Quem não lembra da guria que foi atacada no Twitter porque postou que o pai tinha comprado sorvetes da marca Bacio de Latte – e, por isso, foi taxada de elitista (porque o sorvete é caro e ela ganhou 4 potes) e acusada de causar gatilho em pessoas que não tiveram um pai amoroso ou, ainda, que não tiveram pai presente. O fato de ela compartilhar uma experiência pessoal na rede social desencadeou todo um debate que deixam de existir se a gente “fechar a porta do Twitter”.

A grande questão é que não existe isso de “fechar a porta”, o cancelamento continua impactando na vida das pessoas envolvidas. E, no livro, o Jon Ronson busca entender a origem dessa nossa raiz julgadora, do porquê nós olhamos para as pessoas a partir do que elas compartilham e rapidamente avaliamos, julgamos e sentenciamos ao cancelamento, com ataques públicos. Temos casos, por exemplo, que a humilhação pública através do cancelamento acontece a partir de motivos menos banais do que o pai que dá sorvete. Se uma pessoa publica um conteúdo fazendo apologia ao nazismo, ela pode ser criticada e cancelada? Pode. E nós sabemos que isso vai impactar sobre sua reputação.

Nesse cenário em que todos vivemos na iminência de um cancelamento (sempre lembrando que não dizer nada também é se posicionar, ou seja…), todos nós trabalhamos pra construir uma boa reputação, inclusive as pessoas que dizem que não o fazem. Ninguém quer ser mal-visto, mal percebido nem mal falado. Nós queremos transmitir uma boa imagem, queremos que as pessoas nos percebam como sujeitos de boa reputação, pois sabemos que essa percepção impacta diretamente nos negócios, nas oportunidades, na empregabilidade, na socialização, na família, nos relacionamentos; ou seja, impacta em todas as áreas da nossa vida.

Indo além dos motivos que levam a humilhação pública e ao cancelamento, o autor destaca o quanto as mulheres são atacadas nesse processo. Enquanto homens ou passam batido ou são xingados pelo fato em si, as mulheres são atacadas com mensagens como “deveria ser estuprada” ou “deveria apanhar” ou “tomara que morra”. Mas isso é tema pra outro texto; afinal, esse livro merece!

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