A (falta de) ética das inteligências artificiais impacta na reputação das marcas?

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A resposta é sim, e vou explicar por quê!

Muito tem se falado sobre ChatGPT e como essa inteligência artificial pode, em dado momento, substituir o trabalho humano – ou seja, roubar o nosso trabalho. Eu falei sobre isso na RDCTV, por exemplo. Nessa entrevista eu trouxe uma perspectiva bem positiva, até, pois disse que a nossa humanidade é o que faz com que a inteligência artificial não possa, nesse momento, substituir o trabalho humano. 

Ou seja, precisamos garantir essa humanidade nas nossas entregas, com toda a subjetividade que é inerente às pessoas. Se a máquina faz mais rápido, precisamos fazer melhor – e valorizar a qualidade da nossa entrega. Temos que ir além da máquina. E para isso precisamos fazer da inteligência artificial o que ela realmente é: uma ferramenta de apoio para o nosso trabalho, e não seu executor. Se eu faço o mesmo que a máquina, por que uma empresa colocaria o dinheiro dela em mim, uma pessoa com altos e baixos, oscilações de humor, ego, família e demais questões que extrapolam o trabalho e as entregas?

Quando focamos a nossa atenção para a humanidade que tange os nossos trabalhos, a subjetividade de quem cria o material (seja um planejamento, um conteúdo, um relatório quanti-quali), fica claro que precisamos pensar sobre reputação.  

O que ética tem a ver com o ChatGPT? Tudo!

Clovis de Barros Filho e Luiz Peres-Neto destacam, no livro Reputação, que uma vida 100% ética é impossível e, por isso, nós precisamos nos preocupar mais em agir eticamente. Isso envolve um uso particular da razão: precisamos refletir e deliberar sobre o que vamos fazer, sobre a ação, sobre o que vamos dizer, e isso vai nos acompanhar ao longo da vida. Agir com ética é buscar ter ética nas escolhas que fazemos o tempo todo. 

“Ética não é só pensamento sobre a vida. Não é só deliberação sobre ação. É também prática. A própria vida, quando escolhida pela alma. A própria ação, quando decidida pela razão. Na ética vivemos a vida pensada. […] Porque pensar sobre a vida, sem vivê-la, é puro devaneio. E viver a vida sem tê-la pensado é pura animalidade.” (Barros Filho; Peres-Neto, 2019, p.75)

Eu associo esse raciocínio diretamente à minha prática de trabalho: eu preciso agir de forma ética quando produzo um conteúdo. Ou seja, eu não vou plagiar, eu preciso consultar mais do que uma fonte para verificar a informação que eu estou repassando e não vou implementar práticas que eu considere antiéticas do meu trabalho.

Então, quando eu começo a preparar um conteúdo novo, na fase das pesquisas eu escolho fontes oficiais e outras que considero confiáveis para buscar informações, conecto essas ideias de diferentes fontes e chego num resultado. Isso não é diferente do que o ChatGPT faz quando ele organiza as informações e prevê textos respondendo a uma questão ou ordem que a gente deu. A diferença está nesse olhar crítico que precisamos dar sobre esse texto, verificar se essas informações realmente são corretas, se elas atendem aos preceitos éticos defendidos pelo cliente. 

Com isso eu quero dizer o seguinte: digamos que eu preciso produzir um conteúdo para um cliente da área da saúde e peço pro ChatGPT fazer isso. Além de sabermos que ele já errou, também não sabemos quais são as fontes que ele consulta pra organizar seu texto. Então, se eu der control C + control V na entrega da IA, arrisco errar. E na saúde, publicar um conteúdo com informações erradas pode prejudicar a saúde de uma pessoa (em casos mais graves, pode matar ou deixar sequelas) que confia no meu cliente, pois ele tem uma boa reputação. Além do risco de causar mal a alguém, essa informação errada, quando percebida pela comunidade, impacta diretamente na reputação do profissional que está compartilhando esse conteúdo. 

Então, sempre que produzimos um conteúdo devemos ter essa dupla preocupação: qual é o impacto do conteúdo na ponta (na pessoa que lê e segue a orientação) e na reputação do cliente (seja ele empresa ou profissional liberal)? Mas isso não é uma regra que vale só para o uso de informações geradas por uma inteligência artificial. Ela vale pras informações geradas por um cérebro humano a partir de pesquisas de conexões, de inferências, de pesquisas. Nós temos uma obrigação ética de buscar a melhor informação: que ela colabore, seja verificável e verificada, sem distorcer a realidade nem ferir as pessoas que vão receber esse conteúdo e que não prejudique a imagem da pessoa que nos contratou pra produzir esse conteúdo.

A construção da reputação se objetiva num placar de dezenas, centenas, milhares de mensagens. Atacando e defendendo. Falando bem, falando mal. E muito mal. Com um poder de fogo afetivo sem precedentes. (Barros Filho; Peres-Neto, 2019, p.47)

Boa parte do meu dia enquanto profissional esta focado na reputação. Isso porque nós entendemos, aqui na agência, que a reputação é a verdadeira alma do negócio e que ela precisa, sim, ser lembrada o tempo todo. Não existe ponto de contato de uma marca ou de um profissional liberal com seus stakeholders (clientes efetivos ou em potencial, ex-clientes, fornecedores, colegas de trabalho, representantes do setor, imprensa, comunidade em geral, entre outros) que não colabore, de forma positiva ou negativa, com a sua reputação. 

Mais do que aquilo que fazemos, a reputação é como as outras pessoas percebem a gente  – e o que dizem sobre nós a partir dessa percepção. É por isso que tudo – seja um conteúdo compartilhado nas redes sociais, o atendimento no balcão, a resposta em um SAC digital, como se conclui uma negociação com o fornecedor – colabora com a criação de uma boa (ou má) reputação. É por isso que a ética profissional é a base do desenvolvimento de um bom trabalho, seja de quem está na empresa ou do profissional liberal quanto dos fornecedores que ele contrata (no caso, nós). 

Afinal, 

“ao agir, afetamos o mundo. Transformamos a realidade. E no meio desse mundo, estão as outras pessoas. E por elas seremos avaliados. Julgados.” (Barros Filho; Peres-Neto, 2019, p.38)

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