Tudo que você precisa saber sobre as tendências de cores para 2025

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A relação entre comportamento e o consumo de cores é um tema fascinante e de extrema relevância no mundo do design. As cores têm o poder de influenciar nossas emoções, despertar sensações, comunicar algo e até mesmo moldar nossas decisões de consumo e compra… E isso não é de hoje.

A comunicação pode ser entendida como uma necessidade básica humana, pois a nossa capacidade autossuficiente é limitada. A comunicação entre pessoas e entre grupos foi ao longo dos milênios se sofisticando – porém algumas coisas continuam, em sua essência, primitivas. 

Os homens das cavernas, em sua forma inicial de comunicação, encontraram maneiras de utilizar cores e formas para transmitir mensagens e se expressar. Com recursos limitados, eles extraíam pigmentos naturais do ambiente, como ocre, argila e carvão, e os aplicavam (nas famosas pinturas rupestres) nas paredes das cavernas. Essas cores eram usadas para representar cenas de caça, rituais e símbolos significativos, permitindo que os homens das cavernas transmitissem informações importantes para sua comunidade. Mesmo pré linguagem falada, as cores e as formas já eram uma estrutura de linguagem.

As cores vibrantes e marcantes eram capazes de evocar emoções, contar histórias e transmitir conhecimento, constituindo uma forma poderosa de linguagem visual. Assim, o uso das cores pelos homens das cavernas servia não apenas como uma forma de expressão artística, embelezando a comunicação via formas e desenhos, mas eram também uma ferramenta intencional de comunicação, que quando completa era essencial para a sobrevivência e a coesão social.

É inegável que ao longo da história, as cores e suas respectivas associações culturais, têm um impacto significativo em nosso comportamento, despertando emoções, criando conexões, direcionando nossas escolhas e afetando a percepção do ambiente ao nosso redor. Mas também não podemos deixar de mencionar que existe um toma-lá-dá-cá: assim como uma cor pode influenciar um determinado comportamento, um comportamento ou um contexto também pode gerar o aumento do consumo de uma cor específica. 

cor → comportamento 

ou

comportamento → cor

Se tratando deste segundo ponto, à medida que enfrentamos a volatilidade econômica, política e ambiental em um espectro global, é evidente que a incerteza em relação ao futuro continuará exercendo um papel dominante em nossas vidas – com isso, o que consumimos também será afetado. Nesse contexto, no início de maio deste ano, a consultoria global de tendências, WGSN, em parceria com a Coloro, publicou sua previsão de cores norteadoras para o ano de 2025 através de um relatório de tendências e webinar muito inspiradores.  

Mas como isso tudo acontece? 

Segundo Jack Shipway, cientista de dados da WGSN, a empresa realiza uma monitorização diária de mais de 400 milhões de unidades de códigos de produtos (SKUs) de mais de 10 mil marcas e 300 varejistas. Todo esse processo é fundamentado na taxonomia desenvolvida por especialistas, o que permite a definição de várias métricas de desempenho do varejo relacionadas a qualquer tendência. Além disso, eles também investem na análise das redes sociais e no estudo do sentimento dos consumidores. 

Já a Coloro, o principal sistema de cores usado nas previsões da WGSN, cada cor da previsão de cores mundiais é selecionada e analisada diretamente a partir da biblioteca proprietária da marca formada por mais de 3.500 tonalidades contemporâneas.

Essa seleção e análise de cores ocorre de acordo com a percepção humana – decodificando as cores conforme o olho humano as enxerga.

A partir de um cruzamento de dados, essa previsão de cores globais busca identificar as influências de comportamento que direcionarão as escolhas do consumidor até 2025, explorando temas como bem-estar, criatividade, meio ambiente e tecnologia. 

A WGSN destaca alguns cenários que embasam a seleção de cores posteriormente e que vale a pena ficarmos de olho já que esses mesmos cenários podem influenciar na concepção de outras cores, movimentos sociais, movimentos de design e de comportamento.

Contextos que influenciarão a decisão do consumo de cores:

As pessoas estão cansadas, esgotadas e precisando de carinho. A WGSN traz a economia do cuidado como destaque, revelando a importância da gentileza não apenas para nosso próprio bem-estar, mas também para o fortalecimento de nossas comunidades e da economia como um todo – uma necessidade evidente, emergente e exponencial nesse contexto pós-pandêmico. A compreensão emocional e a empatia se tornarão impulsionadoras-chave do comportamento do consumidor em 2025, abrindo espaço para cores que transmitem calma, senso colaborativo e tons sóbrios que evocam uma sensação de tranquilidade e acolhimento. 

A crescente conscientização ambiental das pessoas revela que cuidar do planeta será tão crucial quanto cuidar de nós mesmos, ressaltando a importância de temas como clima, estações do ano e valorização do local. As cores adotarão uma abordagem mais duradoura e atemporal, refletindo a ascensão dos meios-tons e tons neutros.

Por outro lado, ainda estamos mais sozinhos e dubiamente mais conectados do que nunca. A Internet das Coisas continuará a aproximar os mundos físico e digital, o famoso phygital, e as cores que conseguirem transitar bem entre essas duas realidades serão essenciais. Nem só no metaverso, nem só no shopping center. Começamos a entrar em um espaço de equilíbrio entre a distopia das telas que foi prometida em 2020 e o mundo pré-Zoom. Nesse contexto, as cores hiper vibrantes ganharão destaque, simbolizando a importância da criatividade, otimismo, digitalização e imaginação. 

Além disso, segundo as gigantes, os tons escuros estão voltando à cena, inspirados pela exploração espacial, pelo metaverso, pelas subculturas underground, pelo fascínio revisitado do fundo do mar e pela aceitação dos aspectos mais profundos e complexos das emoções humanas. O que faz muito sentido já que essas cores refletem a nossa busca por expressão autêntica e pela compreensão das nuances inesperadas da experiência humana que temos vivido ultimamente. O escuro abre espaço para nos dilatarmos.

Como indivíduos e marcas, dentro da fábrica da sociedade, precisamos nos comunicar. Entender os movimentos das cores nos permite caminhar para uma comunicação intencional e assertiva com o nosso público. Todos temos uma marca – a questão é quem está no controle ou não da narrativa projetada. As cores são parte fundamental dessa narrativa.

Toda cor comunica algo. Então como esses cenários refletem nas cores? Trazemos aqui as 5 cores chaves que a WGSN junto com a Coloro identificaram como as cores norteadoras para 2025 refletindo uma mudança significativa em direção a um tempo de contínua disrupção, volatilidade, incerteza e muitas inseguranças.

As 5 cores chaves para 2025 

Future Dusk (Coloro 129-35-18)

Primeiramente, temos a Cor do Ano 2025, chamada Future Dusk (Coloro 129-35-18). Essa tonalidade, escura, melancólica e intrigante, está situada entre o azul e o roxo. Future Dusk, segunda a WGSN e Coloro, evoca uma sensação de mistério e escapismo, o que concordamos, mas diríamos que além disso, a cor expressa profundidade, confiança e um toque futurista que se conecta ao contexto desconhecido que vivemos envoltos de diversas tecnologias novas. De certa forma também se conecta com uma base analógica, já que lembra também a tonalidade da tinta do polvo, remetendo ao fundo do mar. Ancestralidade em conexão com o Futurismo.

A WGSN e Coloro também citam que as características surreais e sobrenaturais de Future Dusk se alinham com a influência da segunda era espacial. Na nossa perspectiva essa tonalidade é perfeita para um período de mudanças intensas como as que temos vivido desde a pandemia e por todas as descobertas que temos realizados mundo e espaço a fora. É uma cor que proporciona uma nova perspectiva sobre o tradicional azul escuro, ressaltando a importância de novos horizontes embasados na confiança e poder. 

Urangoo Samba, chefe de cores da WGSN, reforça isso: “As cores que trazem uma sensação de segurança serão a chave para 2025 e veremos tons escuros cativantes ganhando força. Em um futuro próximo, as linhas entre realidade e fantasia ficarão mais tênues do que nunca – Future Dusk é uma cor imersiva e transformadora, alinhada com essa direção.” 

Transcendent Pink (Coloro 021-80-08)

Outra cor apresentada é a Transcendent Pink (Coloro 021-80-08) – uma cor que consideramos significativa e necessária nos dias de hoje. Trata-se de uma tonalidade quase imperceptível, que se assemelha mais a uma tonalidade sóbria e neutra do que a um rosa tradicional, o que nos transmite uma sensação de equilíbrio e solidez – sensações que temos buscado devido a sobrecarga de estímulos que vivemos nos últimos anos. 

Essa cor já pode ser observada em ambientes virtuais e na suavidade da inteligência artificial, como nos espaços digitais criados para proporcionar um ambiente mais confortável e que seja mais apto para permanência. É uma cor que parece que nem está ali, é sublime, sutil.

Além disso, transmite uma sensação de estabilidade. Sua qualidade reconfortante e envolvente é muito relevante para este tempo de policrises. Além disso, a Transcendent Pink é uma cor versátil, capaz de abranger gêneros, grupos demográficos e estações do ano, tornando-se uma escolha comercialmente confiável e segura, na nossa percepção.

Aquatic Awe (Coloro 086-70-25)

Uma cor-chave que particularmente nos chama muito a atenção é essa: a Aquatic Awe (Coloro 086-70-25), um tom de turquesa transformador que celebra os aspectos fascinantes e surpreendentes da natureza e ao mesmo tempo possui uma qualidade sintética que se conecta com temas do universo digital. Na direção contrária da Transcendent Pink, é uma cor que vibra, que marca e que não se deixa esquecer. Essa dualidade traz uma união fantástica entre a fantasia e a realidade, nos lembrando da vida marinha e dos espaços virtuais imersivos, nos levando a uma integração, provocando positivamente uma sensação de encantamento, satisfação e reconexão com a natureza. 

Essa cor está alinhada com as abordagens em constante evolução relacionadas ao bem-estar, seja por meios físicos ou virtuais. Essa combinação de referências naturais e tecnológicas traz uma excelente perspectiva para a cor Aquatic Awe.

Sunset Coral (Coloro 009-58-31)

Outra cor que nos encanta é a Sunset Coral (Coloro 009-58-31), uma tonalidade energizante e agradável que desperta a busca pela alegria e afeto. Sua intensidade de saturação, segundo a WGSN e Coloro, também confere uma qualidade imersiva, explorando as virtudes de desacelerar como forma de autocuidado, abraçando a ociosidade – frequentemente subestimada – o que é uma excelente pedida já que realmente precisamos de um antídoto para a nossa obsessão pela produtividade. Porém, a cor em si não nos impulsiona ao ócio, mas sim nos induz ao movimento, abrindo espaço para redefinirmos prioridades e darmos espaço aos prazeres da vida. O vermelho, historicamente, é uma cor estimulante. Esse tom, é o estímulo do novo, com um caráter hedonista e tecnológico.

Ray Flower (Coloro 037-82-32)

Por último, a WGSN e Coloro apresentam a cor Ray Flower (Coloro 037-82-32), um amarelo radiante que emite calor, alegria e é bastante convidativa. Uma cor natural que entrega sol em uma era de sombras. Segundo eles, sua inspiração vem de práticas regenerativas que visam proteger a biodiversidade. 

Acreditamos que essa cor possui uma qualidade inerentemente otimista e saudável, que se alinha com a crescente ênfase em abordagens de sustentabilidade mais radicais nos negócios.

Dentre essas cores, a WGSN e Coloro destacam a cor Future Dusk como a cor principal do ano de 2025. 

Segundo a Caroline Guilbert, chefe de conteúdo criativo da Coloro , observa: “Por várias temporadas, Coloro tem visto marcas mudando para paletas com apelo duradouro, Future Dusk é uma cor inspiradora que apóia essa abordagem trans-sazonal. Parece quente e profundo, o que o torna melancólico, misterioso e atemporal.”

Levando em consideração o termo atemporal e todas as características que a cor escolhida evocam, faz muito sentido já que sabemos que a busca pela memória, eternidade e atemporalidade tem sido o grande objetivo da última década. 

A indústria da moda, do design de interiores e da criação já revelam a presença significativa das cores aqui apresentadas, mas é importante ressaltar que a relação entre comportamento e consumo de cores não é uma ciência exata. As preferências de cores variam de pessoa para pessoa, e fatores culturais e individuais também influenciam nossas percepções. Além disso, o contexto e a combinação de cores podem alterar completamente a interpretação e impacto emocional.

Em última análise, a escolha das cores deve ser um exercício criativo e estratégico, levando em consideração diversos fatores como, lentes locais, a mensagem desejada, o público alvo, e os valores da marca . Compreender a relação entre comportamento e consumo de cores nos permite utilizar essa poderosa ferramenta de forma consciente, criando experiências visuais impactantes e envolventes para as pessoas.

Cada cor conta uma mensagem. Mas a composição garante se a mensagem será entregue ou não. Conheça as partes, e cuide do todo.

Obrigada por seguir até aqui! Se quiser continuar essa conversa, convidamos vocês a ouvirem o EP #07 d’O Neurônio: “Estratégias de Marca vs. Senso Comum”.

Esse artigo foi escrito a quatro mãos!

Giselle Prado e Pip Seger.

Giselle Prado é Designer, Pós Graduada em Psicologia Social, Antropóloga e Especialista em Pesquisa de Tendências e Comportamento que explora a interseção entre criatividade, psicologia, tecnologia e cultura. 

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Pip Seger
Fundadora, Head de Concept e Direção de Arte na agência ‘O Cérebro’, de Branding e Naming com base em 4 pilares teórico-metodológicos: Neurociência, Psicologia, Antropologia e Semiótica. 
Mestre em Psicologia Social na USP, Especialista em Branding pela IE. Business School de Madrid e Designer Gráfico formada pela Belas Artes. Professora e Palestrante. Co-host do Podcast O Neurônio.
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