Para quem chegou aqui de para-quedas, oi! Eu sou a Pip. Fundadora e head de concept e direção de arte da agência O Cérebro. Fazemos Branding e Naming com base em Neurociência, Psicologia, Antropologia e Semiótica. Hoje vim contar um caso que estava guardando aqui comigo, por não saber como contar, mas que foi um dos projetos mais especiais que tivemos a honra de fazer por aqui: nomeamos um bebê. Sim. Um bebê. Humano.
Essa é a saga do Baby Naming. E o capítulo 1 começa com essa mensagem.
Dia 26 de Fevereiro de 2023. Chego do escritório, vou jantar, volto para meu quarto e pego o telefone. Uma notificação de mensagem. Abro o WhatsApp:
Ouso dizer que em todos esse anos nomeando marcas, produtos, serviços e projetos, nunca imaginei nomear pessoas. Intrigada e investida na ideia, percebi que todas as métricas deveriam ser ajustadas. O que torna um nome bom para uma empresa é diferente do que torna um nome bom para uma pessoa. O quão diferente é? Como avaliar? Isso que precisamos definir.
Quem conhece nosso trabalho sabe que usamos ciência para tudo e qualquer coisa que fazemos por aqui – o que significa que entrei em um embate: como trazer ciência para algo que é historicamente “intuitivo”?
Entramos então em uma busca filosófica do que significa dar ou receber um nome. Não é uma resposta fácil.
No Artigo “Nome: percurso histórico e construção do conceito” de Márcia Zamariano para a Revista Contexto (2012), a autora explica, a partir dos conceitos de John Stuart Mill (1843):
“Mill sustenta explicitamente que os nomes próprios não descrevem os objetos a que se referem, de maneira que não são sinônimos de nenhuma descrição associada. Pode-se, pois, concluir da obra deste autor que nomes próprios, ou seja, não-conotativos, são aqueles que buscam a singularização das coisas. Desse modo, uma pessoa chama-se Antonio para ser distinguida de João, uma cidade chama-se Londrina para ser distinguida de Maringá, São Paulo, etc.; e, por isso, esses nomes são arbitrariamente atribuídos às coisas singulares, justamente para evidenciar essa singularidade.”
“Arbitrariamente atribuídos”… E se não fossem? E se pudéssemos criar estruturas para nomear alguém com sentido? Com lógica? Com método?
Com certeza alguém já fez isso antes. Não por acaso Stefani Joanne Angelina Germanotta é Lady Gaga e Larissa de Macedo Machado é Anitta.
A construção do nome é a primeira palavra da história que a marca vai contar.
Após algumas reuniões, conversas, pesquisas, leituras, taças de vinho e canecas de café, encontramos algumas bases que poderiam ser pensadas para definir o que torna um nome “bom”.
Sua sonoridade, abertura para internacionalização, rimas, iniciais, sílabas e fonemas, cada vírgula foi pensada e uma base foi desenvolvida para criarmos o que seria o primeiro Baby Naming da nossa história – e a primeira palavra da história dessa vida que vai começar.
Com a proposta definida e aprovada, fizemos uma reunião profunda, complexa e emocionante com os pais para definir todos os cenários e possibilidades possíveis, perguntamos sobre nomes frequentes na família, sobre nomes à evitar, sobrenomes, conhecemos em detalhes a história do casal, da gravidez, sua relação com religião, nacionalidade, palavras importantes, associações que precisam ser pensadas, conceitos importantes para serem reforçados ou até mesmo evitados. Se não fossemos da comunicação, diria que foi uma sessão de terapia.
Com os pontos nos i’s colocados, embarcamos em coletivo para o mundo mágico (porém pragmático) de nomes de pessoas. Fizemos algumas boas sessões de ideação, contamos com mães de filhos pequenos, namers profissionais, estrategistas, psicólogas e pessoas que nunca fizeram naming na vida. Juntamos grupos de pessoas com vivências completamente diferentes para a partir de territórios e sonoridades definidos, pudéssemos começar a criar a nossa long list.
Foram 224 nomes gerados, 34 nomes estudados e validados em profundidade, 21 nomes apresentados em 2 rodadas e 1 nome escolhido.
Na história do casal, existe uma grande relação com o catolicismo. Esta relação que os levou ao redor do mundo à conhecer da mais simples capelas às mais grandiosas catedrais. Em uma viagem especial, foram à uma igreja de São Rafael. O casal tinha tido inúmeras intempéries ao conceber, este foi um dos grandes motivadores para entrar em contato conosco para começar o processo de Naming, e foi um dos grandes motivadores que tiveram para entrar nessa igreja, que tinha como grande foco o padroeiro da cura. Nessa visita, a mãe teve uma sensação íntima, inerente e profunda, que o bebê era prometido.
A história é muito mais longa e complexa do que poderíamos contar, mas a analogia de Prometido ficou conosco.
Em 224 nomes, o escolhido não apenas cumpria com todas as métricas de sonoridade, internacionalização, pronúncia, escrita, estética visual e adaptabilidade aos sobrenomes, como também carregou consigo um sentido que transitava entre o metafórico/poético e o espiritual.
“De origem hebraica, significa “Terra Prometida”. O simbolismo associado ao nome é a santidade, representando a conexão com o sagrado e a espiritualidade. Esse simbolismo também pode ser interpretado como uma representação da esperança e da promessa divina de um futuro melhor.”
Quando apresentamos esse nome, que apareceu em uma sinergia perfeita, dentre tantos outros, a mãe chegou às lágrimas, o pai ficou surpreso, impactado e também se emocionou.
Eu, honestamente, quase chorei junto.
Impressionados com as emoções afloradas que surgiram com esse – e apenas esse, pediram uma segunda rodada.
Voltamos à prancheta e trouxemos mais 10, estudados, validados, impactantes.
A resposta não tinha como ser outra. Em 224 gerados, 21 apresentados, era aquele primeiro. Era o número 1.
Os nomes tomaram então uma outra dimensão. Se nos estudos linguísticos se designam à denominar algo para diferenciá-lo em detrimento de existência de algo outro “A Maria é Maria porque não é Ana”, depois dessa jornada afirmo que o nome transcende o sentido e adentra o significado. A bagagem que traz em história, antes mesmo de nascer. O coração dos pais, traduzido em fonemas. A poética, lógica e ciência em harmonia para criar algo verdadeiramente único, não por não existirem outros, mas por significar tanto.
Uma palavra nunca é só uma palavra. Para alguns, pode ser o mundo inteiro.
Seja bem-vindo, Zion. Obrigada.
Obrigada por me acompanhar até aqui! Falamos de Naming, agora podemos virar e olhar o outro lado da moeda: o Branding. Confira o EP #11 d’O Neurônio: “Rebranding vs. Redesign” para entender as diferenças, semelhanças e a jornada de estratégia que divide os dois.
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