Criatividade não é um botão que liga e desliga, mas estamos em um momento da história em que deveria ser?

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Com um pouco de atenção e consciência de classe, fica nítido como a criatividade está altamente cobiçada e sufocada hoje. O boom da economia criativa durante a pandemia apontou os olhares do mercado para uma grande oferta de novos profissionais. Muitos deles vindos de outras áreas de atuação, dispostos e deslumbrados com a possibilidade de ganhar dinheiro com a própria imaginação. Uma ótima oportunidade de triplicar a esteira de produção e precarizar, ainda mais, profissões que demandam fôlego e conforto mental para serem realizadas.

Todos os casos que vemos de pessoas esgotadas pelo trabalho são sintomas de uma sociedade acelerada. Esse ritmo alucinante exige mudanças o tempo todo para manter uma constância de inovação e renovar oportunidades comerciais. E qual indústria detém a produção da inovação? Quem é responsável por desenvolver, empacotar e vender ideias? Isso mesmo, a indústria criativa.

Se tem mudança sendo exigida, tem que ter inovação.

Se tem inovação, tem indústria criativa no meio.

Passamos os últimos anos defendendo que era preciso educar o mercado, educar os clientes, que não existe “tirar uma ideia nova do nada para hoje” sem um ambiente propício (para não falar respeitoso) para isso. O tempo foi passando, vimos espasmos de esperança na estrada. Porém, apesar do trabalho imaterial estar mais difundido, chegamos em 2024 com problemas iguais aos de anos atrás: desvalorização, persuasões, puxadas de tapete e sobrecarga.

Uma das maiores preocupações de quem trabalha com criatividade é como separar a criatividade que usa para trabalhar da que emerge naturalmente nas pequenas coisas do dia a dia.

Vamos pegar como exemplo um videomaker que trabalha gravando e editando vídeos todos os dias. Quando entra de férias e quer fazer conteúdo mostrando o lugar onde está, conseguiria não enxergar o trabalho nisso? A resposta é que sim, até conseguiria, mas na prática, a operação feita foi a mesma. A operação de gravar algo, editar, tratar cor, colocar trilha, efeitos, revisar… foi igual a que utiliza para trabalhar. O profissional criativo mistura as práticas cotidianas de lazer com práticas de produção de valor financeiro para sobreviver do que gosta, do que já faz para si.

O famoso Byung-Chul Han, quando fala nas suas obras sobre a mudança da sociedade de controle para a sociedade de performance, denuncia como nos tornamos chefes de nós mesmos. Como o chefe pode mandar a si mesmo parar de ser criativo, na intenção de não criar para trabalhar, sem fechar a torneira da criatividade para o eu interior?

Trabalhar com criação é colocar a criatividade na sua característica formal. A informal seria aquela que não é capaz de ser envelopada em contextos comerciais. Para fluir entre esses dois estados de espírito, é preciso entender como desligar o botão do trabalho. Mas a criatividade é uma só. Parece desconfortável, mas será que neste momento da história, transformar a criatividade em um botão que liga e desliga, não poderia nos aliviar um pouco?

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Lucas Borba
Curioso e com o pensamento multimídia sempre alerta, já cocriei junto de grandes influenciadores e marcas como Netflix, Globo, Pepsi, Renner, Melissa e American Express. Desenvolvo narrativas que vão de conteúdos para marcas a documentários, de videoclipes a trends do TikTok, de fotografias a podcasts, de cobertura de festivais a projetos autorais. Enquanto educador e pesquisador, lancei o curso de criação de vídeos “Não é só um videozinho” e elaborei o Cantinho do Render, plataforma de pesquisa sobre a indústria criativa que em 2023 lançou o ebook “Olhar Vertical – Um estudo sobre o formato do Século XXI”. Em 2021, lancei meu primeiro documentário autoral chamado Não-Cidade e em 2022 o segundo, chamado O Amor do Brasil (disponíveis no YouTube).
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