Esse não é necessariamente mais um artigo sobre o Midjourney, o Dall-e, ou o ChatGPT. De qualquer forma você pode ter chegado aqui sem saber o que são essas três ferramentas. Em resumo, as duas primeiras criam imagens a partir de frases que você insere nessa inteligência artificial. O terceiro ele é bem mais avançado, e cria tudo que você possa imaginar textualmente. Desde uma receita de bolo, até um código avançado na linguagem de programação que você quiser. E obviamente, legendas de post, títulos de anúncio, enfim, o que você possa imaginar relacionado a propaganda.
Hoje essas inteligências, aplicadas em propaganda, não são mais que simples máquinas de fazer clichês. Imagine por exemplo, que alguém pede para uma pessoa criar um anúncio. Uma pessoa que não tenha qualquer aproximação com publicidade. Ela provavelmente vai ver alguns anúncios no Google, e tentar mimetizar essa linguagem. E o resultado vai ser, inevitavelmente, alguns clichês: “não compre carro hoje”… “um novo conceito em” … etc. Pois é, em linhas gerais é isso que essa inteligência faz hoje.
Eu não queria aqui me dedicar tempo demais levantando pontos se essa vai ser uma tendência no futuro ou não. Recomendo você ler o texto da Dani Lazzarotto, no Update or Die. Ela aprofunda bem essa questão.
O que eu queria me dedicar é a pensar nesse futuro sob o ponto de vista de duas questões: a empregabilidade e a ética autoral.
1) Sobre vagas de emprego
O que será feito dos nossos postos de trabalho, em estruturas “inchadas” que temos hoje? Vê, fazer copy, pensar estratégias, criar o layout, tudo isso leva muito tempo. E num futuro onde essas plataformas não sejam mais máquinas simples de fazer clichês, e estejam aprimoradas para um uso em publicidade, por exemplo. Esse tempo todo reduzido a segundos, não significa necessariamente que trabalharemos menos, ou que sempre haverá o mesmo número de pessoas por trás dessa inteligência. O ponto aqui é pensar se estaremos ainda na mesa quando essas inteligências virarem um substituto, e não apenas um aliado.
Porque assim, eu queria ter esse olhar positivo, de que novas tecnologias não substituem pessoas, mas a gente sabe como o sistema funciona. Se você estiver concorrendo com uma máquina que não cobra direitos trabalhistas, a gente sabe o que acontece.
Ah, e eu não sei se você sabe, mas os primeiros estagiários de publicidade em inteligência artificial já foram contratados, tá? Uma agência chamada Codeword, contratou os dois primeiros estagiários que irão se reportar ao diretor de criação da agência, criando moods e trabalhos mais mecânicos da agência. Pois é!!!!!!
Dito isso, não acho que precisamos de pânico (rs), apenas de reflexão. Porque essas tecnologias não chegam tão rápido a ponto de não dar tempo de nos adaptarmos. Sempre dá tempo. A publicidade está se adaptando desde o dia que nasceu.
2) Sobre autoria
Um debate que já está rolando entre artistas sobre o Midjourney e o Dall-E, essas inteligências que criam imagens a partir do que você sugere pra elas, é que essas plataformas criam isso baseado em traços de artistas que já existem na internet, por exemplo. Vamos imaginar que eu coloque assim: “crie um quadro cubista no estilo de Pablo Picasso”, e uso essa pintura em uma publicidade, por exemplo. A família dele não deveria receber direitos autorais sobre isso, tal qual suas obras hoje rendem esses valores?
É um dilema legal-ético que se aplica a propaganda no futuro. Veja, se nosso trabalho é comissionado e vendido para uma marca, e uma inteligência artificial cria baseada no que aprendeu com determinadas campanhas de determinadas marcas, esse conteúdo não tem um valor? Porque de alguma forma geramos valor para essa inteligência artificial e seus usuários, não?
Uma segunda questão, você não gostaria de ser avisado que algum conteúdo que você está lendo foi gerado por uma IA? Se sim, você gostaria que eu tivesse te dito que o título desse artigo foi gerado pelo ChatGPT? Pois é, desculpa por isso, mas agora eu vou te deixar ainda mais intrigado/a. Será que esse texto que você tá lendo agora, foi gerado por mim, ou eu coloquei na plataforma: “gere um artigo de 4 mil palavras no estilo de coluna que Lucas Schuch escreve para o Share”?
Eu sei que tudo isso parece ainda muito distante das discussões mais urgentes que precisamos ter, mas quanto antes começarmos a pensar nessas regulamentações, mais fácil vai ser de não sermos pegos de surpresa, já que tudo isso não existia há dois. Imagine o que pode vir no futuro.